Ver, ouvir e historicizar

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Aqui iremos fazer uma viagem no tempo, através de uma máquina possível: O CINEMA

sexta-feira, 2 de maio de 2014

CINEMA MARGINAL E HISTÓRIA: AS MARCAS SINGULARES NA JUVENTUDE TERESINENSE EM FILMES SUPEROITISTAS (1970 – 1975)

Carlos Lopes Barbosa

A RELAÇÃO CINEMA MARGINAL-HISTÓRIA: UM DIÁLOGO HISTORIOGRÁFICO

Cinema Marginal - cinematográfico em contraposição ao Cinema-Novo, cinema de mercado e a Tv. Cineastas mais radicais partiram para o experimentalismo. No Piauí, início da década de 70, vários jovens teresinenses rodaram filmes em formato não comercial. O presente trabalho tem como finalidade compreender e analisar as subjetividades juvenis da cidade de Teresina na década de 1970 a partir das produções audiovisuais ligadas a esta estética marginal presente na cidade neste período.

“O cinema na História”: o percurso metodológico em Marc Ferro e Marcos Napolitano.
Marc Ferro em seu livro “Cinema e história”, no sub topico O visível e o não visível a análise deve ser sobre cada substrato do filme que se integra ao mundo que o rodeia: planos, sequências, imagens sonorizadas, imagens não sonorizadas, o cenário, etc. Fazendo uma relação com aquilo que não é filme: o autor, a produção, o público, a crítica, o regime de governo. Poderemos chegar não apenas na obra, mas também na realidade que ela representa. (FERRO, 2010)
MARCOS NAPOLITANO em Fontes audiovisuais: A História depois do papel, coloca  três possibilidades de relação entre  história e cinema:
1. O cinema na História - o cinema é visto como fonte para a investigação historiográfica.

2. A historia no cinema - é o cinema abordado como produtor de discurso histórico e como interprete do passado, nessa abordagem o pesquisador tem que enunciar sua intenção antecipadamente para seu leitor.

3. A História do cinema - enfatiza o estudo dos avanços técnicos, da linguagem cinematográfica e condições sociais de produção.

A produção experimental cinematográfica de Teresina no início de 1970 como fonte historiográfica.
EDWAR CASTELO BRANCO em Todos os dias de Paupéria: Torquato Neto e a Invenção da Tropicália. No Cap. 4 – Destruir a Linguagem e Explodir com ela: Imagens em movimento no último vôo, torto, do Anjo. Analisa dois filmes de Torquato Neto.

Ao filme TERROR DA VERMELHA “é dada a importância a sua significância ao que ele representa como permanência do que se iniciou com a Tropicália.” (...) “Um instrumento para situar no contexto das vanguardas culturais dos anos setenta o chamado cinema marginal.” (p.203)

“Leva ao extremo a receita do cinema experimental, sem estrutura teleológica, demonstra uma fuga de padronizações.”
(p. 207)
REDERICO OSANAN em Curto-circuitos na sociedade disciplinar: Super-8 e contestação juvenil em Teresina (1972-1985). CAP. 2 - DAVID VAI GUIAR: Táticas Juvenis para enfrentar a Sociedade Disciplinar. Analisa o filme de Durvalino Couto.

“Nas ruas, dividindo espaços entre outros sujeitos, jovens perambulam sem destino. Garotos magros e cabeludos fumam um baseado, enquanto garotas de top e mini-saia exibem cigarros como se esgrimissem uma arma. Nos muros, pichações denunciam e testemunham as angústias daquele tempo e daquela geração.” (p. 49)
JOSÉ ERNANE BRANDÃO em Um formigueiro sobre a grama: A produção histórica da subjetividade underground em Teresina na década de 1970.  No cap. 2

Analisa o filme MISS DORA (1974) de Edmar de Oliveira.

“O uso de bitolas super-8 era natural nas famílias de classe média”. (p. 105)

Esses Jovens buscaram uma fuga do tradicional. Usaram o super-8 para produzirem filmes experimentais e retratarem suas realidades diferenciadas.

No filme visualizamos comportamentos como: bebedeiras em um bar, insinuações femininas com uso de mini-saias e mini-blusas. “Em uma seqüência uma moça bebe e fuma cigarro sentada sozinha em uma mesa de bar, um comportamento condenável para uma moça de família da época”. (BRANDÃO JUNIOR, 2011)
 CONSIDERAÇÕES:
Essa sistematização historiográfica tem como objetivo principal, situar o leitor na caracterização da relação Cinema-História, assim como no percurso metodológico da pesquisa no que se refere a análise dos filmes experimentais teresinenses da década de 1970.

REFERENCIAS:
CASTELO BRANCO, Edwar de Alencar. Todos os dias de paupéria: Torquato Neto e a invenção da tropicália. São Paulo: Annablume, 2005.
FERRO, Marc. Cinema e História. Tradução Flávia Nascimento. São Paulo: Paz e Terra, 2010.
LIMA, Frederico Osanan Amorim. Curto-circuitos na sociedade disciplinar: Super-8 e contestação juvenil em Teresina (1972-1985). Dissertação (Programa de pós-graduação em História do Brasil). UFPI, CCHL – 2006.
NAPOLITANO, Marcos. Fontes audiovisuais: A História depois do papel. In: PINSKY, Carla Bassanezi. (Org.). Fontes Históricas. 2 ed, São Paulo: Contexto, 2010. p 235-280.
BRANDÃO JUNIOR, Ernani José. Um formigueiro sobre a grama: a produção histórica da subjetividade underground em Teresina-PI na década de 1970. Dissertação (Programa de pós-graduação em História do Brasil). UFPI, CCHL – 2011.
MONTE, Regianny Lima. A cidade esquecida: sentimentos e representações dos pobres em Teresina na década de 1970. Dissertação (Programa de pós-graduação em História do Brasil). UFPI, CCHL – 2010.
NOVAES, Adauto (Org) . Anos 70: Ainda sob a tempestade. Rio de Janeiro: Aeroplano. Ed Sanac. Rio 2005.